Crítica | Justin Timberlake - FutureSex/LoveSounds

Gravar músicas em menos de um dia, não planejar nada, não ter nenhum conceito. Clássicos não são premeditados. 

Justin Timberlake estava em hiato após "Justified" e não sabia o que fazer para o seu próximo trabalho. Só o que sabia é que trabalharia com Timbaland e que utilizaria "Cry Me a River" como ponto de partida. Ele estava triste com o atual estado da música, acreditava ter perdido sua voz, e temia ser esquecido, isso tudo logo após emplacar em sua carreira solo. 

É esse estado de inquietação que pode transformar um álbum em algo a mais. 

A primeira faixa criada para o álbum foi o assombroso hit "What Goes Around.../...Comes Around", possivelmente a melhor música da carreira de Timberlake. E ela surgiu de um freestyle, onde o outro produtor integral do disco, Nate "Danja" Hills, começaria um riff de guitarra sendo acompanhado por JT nos vocais e Timbaland na batida. Foi dessa maneira que a maioria das faixas do álbum foi criada, sem anotações, apenas com experimentação. Mas após a concepção de "What Goes Around", uma nova regra foi imposta, fazer todo o resto o mais diferente possível.

E eles chegaram a isso transformando o álbum em um projeto sem gênero musical definido, que não pode ser melhor descrito do que pelo seu nome duplo. "FutureSex/LoveSound" tem influências new wave; "Sexy Ladies" tem funk; "Damn Girl" tem o soul dos anos 60; na balada "Losing My Way" podemos ver um coral gospel; ele coloca em "My Love", uma faixa de R&B, uma batida e sintetizadores eletrônicos, permeados por um beatbox quase imperceptível de Timbaland; "What Goes Around" tem sua marcante introdução sendo tocada em uma baglama, um instrumento turco. Mas há uma harmonia transcendental no álbum, muito por conta do tom robótico e futurista à que a maioria das faixas são submetidas, e é claro pela forma como elas são sequenciadas. 

Talvez uma grande parte da beleza aqui esteja no formato, um álbum duplo que é essencialmente misturado, com faixas com nome duplo tendo tanto o "FutureSex" como os "LoveSounds". O fato de muitas delas não serem diretas sequências uma da outra funciona peculiarmente bem. "Let Me Talk To You" é a introdução de "My Love", mas está junta com "Sexy Ladies". "Set The Mood" abaixa a parte sensual do álbum próxima ao final ao "definir o tom", mas de forma alguma está conectada com a bêbada de amor adolescente "Summer Love". É bem claro também quando alguma faixa é feita para uma das metades em especial, mas elas atingem seu verdadeiro potencial justamente quando trazem elementos das duas metades. Ao concentrar a maioria delas nas primeiras faixas, Timberlake criou uma primeira metade tão boa como nenhum álbum "pop" em décadas. 

É como uma montanha russa que em momento algum te deixa respirar, que começa na infecciosa faixa título e termina em "What Goes Around.../Comes Around" passando por faixas como o provável maior hit de sua carreira, "SexyBack", onde ele traz o "sexy" de volta para a música de forma como muito poucos conseguiriam sem parecer tosco em excesso; a irresistível "Sexy Ladies", que da batida à cadência de seu refrão impede qualquer ser humano de ficar parado; uma composição magistral e provavelmente a música mais sexual do disco em "LoveStoned/I Think She Knows (Interlude)"; o hit "My Love" onde ele simplesmente chama uma garota para ser seu amor, deixando a parte do sexo para um bom verso de T.I., seus vocais nos versos e no refrão elevam o já alto nível da produção, muito bem mixada e cheia de camadas. E então chegamos a "What Goes Around.../...Comes Around", a peça central do álbum e talvez a melhor música de Justin Timberlake, que não apenas continua "Cry Me A River", mas a melhora. 

É uma primeira metade tão fantástica e eficiente, que o resto poderia ser péssimo e o álbum ainda seria ótimo. 

Mas as coisas não exatamente caem daquele ponto em diante. "Chop Me Up" sai consideravelmente do tom do registro e não está no mesmo alto patamar, mas não se pode dizer a mesma coisa de "Damn Girl", uma faixa cheia de alegria que traz muito de Michael Jackson e Prince, e termina de forma fenomenal. A pop "Summer Love" é uma das melhores faixas do álbum, e faz isso sendo um chamado de amor quase adolescente sobre como o verão interfere em relacionamentos, que não soa mais madura do que muitas outras músicas pop lançadas naquele ano, mas inegavelmente melhor que a maioria.

A orquestra em "Until The End of Time" encaixa com a lenta batida eletro perfeitamente, e a performance de Timberlake é um chamado para se cantar junto, talvez apenas superada por seus vocais em "(Another Song)", que apesar de não cumprir as altas expectativas que uma colaboração entre Justin Timberlake e Rick Rubin traz consigo, é sincera e maravilhosamente acompanhada por sua crescente batida e piano. 

Até em momentos como a balada "Losing My Way", que parece sair do conceito geral, ele está detalhando seu estado antes da criação do álbum, e faz isso em uma canção tocante e profunda, feita para ser apresentada ao vivo. 

O fato de a maioria das letras não serem escritas é bem perceptível, sendo que elas servem de companhia para a produção e os vocais, e servem esse propósito muito bem. Com, discutivelmente, a voz mais sexy do mundo, ele pode transformar qualquer refrão em uma chamada cheia de sex appeal e transbordada de amor. Ele vai de falsettos para vocais quase sussurrados, comandando sua obra com maestria, se colocando ao lado de seus ídolos e transformando um álbum já ótimo em algo que apenas ele poderia ter potencializado ao máximo. Aqui ele não é Michael, Prince ou Stevie, aqui ele é Justin Timberlake, e se ele quer que você dance, ame ou sinta uma vontade absurda de fazer sexo, ele consegue fazer isso.

"Future Sex/Love Sounds" é hoje, mais de uma década depois de seu lançamento, um clássico indiscutível. Timberlake conseguiu unir suas influências e criar um som próprio, que parece funcionar apenas com ele, naquele que é o melhor álbum Pop desde quando Michael e Prince tinham sua idade. Um dos registros mais futuristas e complexos do século até agora, e que não apenas funciona com qualquer pessoa que esteja procurando o que ele oferece, mas abre a mente para uma infinidade de novas possibilidades. 

9.3

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