Crítica | Zumbilândia: Atire Duas Vezes
Regra número 1 de hollywood: se acertar, Atire mais uma vez.
Lá em 2009, antes da Disney comprar metade da indústria, quando os Vingadores eram um sonho molhado de fãs de quadrinhos, quando um filme solo de Han Solo era nada mais que um devaneio, um pequeno e subversivo filme de um sub-gênero – que já estava saturado na época – parecia imune ao raio franqueador que tomou conta de Hollywood.
“Zumbilândia”, como o próprio nome já sugere, foi um sucesso absoluto por fazer piada com uma premissa com que a maioria faz pânico e por anos, dez, para ser mais exato, se falava em uma continuação que hoje, finalmente, vê a luz do dia. E diferentemente dos exemplos acima que, em sua maioria, são todos partes de planejamentos maiores e, aparentemente, infinitos de continuações, prequels e derivados, este é um filme que apesar de não ser necessário, não deixa de ser bem vindo, pois poucas comédias e, ainda menos filmes de zumbi, conseguem te oferecer um mundo divertido o qual voltar a ele seja algo prazeroso.
Não que o festim de sangue, que já dá as caras na sequência de abertura, seja convidativo para qualquer acompanhante desavisado, mas relembra a todos que, apesar de ser essencialmente uma comédia, os zumbis ainda são o fator principal da narrativa. Infelizmente, esta mesma sequência, por mais que divertida, acaba revelando algumas das fraquezas que o longa viria a exibir, como o excesso de CGI – praticamente ausente no primeiro filme – e um uso não tão preciso de trilha sonora, empregando um rock clichê que poderia muito bem ser substituído por algo mais cômico em diversas cenas.
Inclusive, é notável como o diretor Ruben Fleischer acaba não inovando em nada quanto aos aspectos técnicos e visuais do longa, trabalhando melhor nos momentos de diálogo entre seus personagens – que se mostram vitais para o desenvolvimento dos mesmos e ambientação do mundo – do que nas cenas de combate que se zumbificam perto de seu original. E por mais que o diretor consiga criar tensão por antecipação, ela vem menos de suas habilidades por trás das câmeras do que pelo roteiro que é, novamente, o ponto forte do filme, mesmo que não do ponto da história em si que, em suma, é uma reedição (despreocupada e nada ambiciosa) do primeiro longa, mas sim da complexidade emocional e humana de seus personagens.
Esperto, satírico, irônico e com uma dose carregada de referências à cultura popular, “Atire Duas Vezes” é mais engraçado que seu antecessor, provocando diversos momentos hilários, desde piadas internas com o universo da série – aquelas envolvendo as regras de Columbus são especialmente efetivas, assim como a que da título ao filme – ao uso de três novos personagens que, mesmo servindo apenas como alívio cômico, não deixem de fazer rir. Toda a sequência envolvendo Luke Wilson e Thomas Middleditch (se este fosse substituído por Michael Cera o universo seria um lugar melhor), sósias de Woody Harrelson e Jesse Eisenberg, figura praticamente como enchimento, mas funciona efetivamente, com destaque para um combate em plano sequência que me lembrou do primeiro “Kingsman”. Já Zoey Deutch, interpretando a clássica “loira burra”, é quase forçada, mesmo que seja muito (muito) fácil rir dela - e não com ela.
O quarteto principal, retornando em peso, parece estar em menos sincronia - e com uma bagagem de nove nomeações ao Oscar entre si -, mas não deixam de convencer em suas interações que se mostram cada vez mais complexas e até verdadeiras. Pois se um apocalipse zumbi é um cenário assustador, aqueles quatro seres esquisitos – um solitário, um apaixonado, uma receosa, uma adolescente - conseguem encontrar paz e segurança um no outro, tornando esta comédia absurda em um belo Road-movie que ainda tem algo a dizer sobre cada um de nós.