Crítica | Bon Iver - i,i

Depois de mais um longo hiato, a banda, do multi-instrumentista, compositor e produtor, Justin Vernon; Bon Iver. A banda que vem cada dia mais se transformando em um coletivo de arte. Vernon, que formou a banda sozinho numa cabine de pesca em 2007, vem cada vez mais, abrindo as portas do seu projeto mais famoso. A companhia de dança contemporânea, “TU Dance”, vem fazendo parte dos shows desde 2017, e agora também faz parte dos videoclipes e direção de arte desse novo projeto.

A quantidade de músicos envolvidos nesse projeto também é maior, a quantidade de instrumentistas envolvidos no projeto passa de 20, e o total de mentes criativas envolvidas no projeto chega a meia centena, músicos renomados, e cada um em seu lugar, sem inventar nada, como o Liverpool de Klopp: Buddy Ross e Justin Vernon nas teclas, Wheezy programando o drum roll, o lendário Aaron Dessner nas cordas.

Segundo as palavras do próprio Justin Vernon, esse é o projeto dele que mais abraça o espirito de banda, substantivo que raramente é usado ao se dirigir a Bon Iver, que de praxe é associado ao rosto e nome de seu líder e idealizador, Justin Vernon. O que soa no projeto é a falta de autonomia de Justin nos arranjos do projeto, as atmosferas sonoras características de Vernon, aqui dão lugar a pianos luxuosos e guitarras preenchendo os espaços, que originalmente eram tomados apenas pelos pads de ambiência.

I,i vive em uma localização curiosa na discografia da banda, vem logo após o abstrato e fragmentado 22, a million. Que indicava uma mudança radical na sonoridade da banda, era esperado um projeto ainda mais ousado e inovador de Vernon, que acabou não acontecendo. I,i flutua entre a ousadia de 22, a million e os arranjos e composições inclinados ao pop, dos dois primeiros discos.

A faixa de abertura é promissora, Vernon manuseia o volume de um rádio antigo, numa faixa que demorou 5 anos para ser composta, seus parceiros de banda usam lixas para fazer a percussão, samples recordados como refrão, e sintetizadores para construir a harmonia. Mas com poucas exceções, o álbum não anda em sentido a inovação, o álbum serve como várias homenagens aos outros projetos, e administrando os elementos deles, misturando, as vezes todos, as vezes só alguns.  

“We” é uma música interessante, com bom arranjo, mas proposta – idêntica – a proposta apresentada em “Bon Iver, Bon Iver”, quase como uma música de sobra. “Holyfields,” e “Jelmore” também soam como sobras inacabadas de “22, a million”. Mas isso não tira de forma alguma o valor intrínseco das canções, que são, em sua maioria, ótimas.

Os primeiros singles “Hey Ma” e “U (Men Like)” são legitimamente ótimas, e as músicas mais acessíveis de Justin em muitos anos, talvez desde o sucesso estrondoso de “Skinny Love”, só porque já vimos a fórmula antes não significa que ela ainda não funciona, Justin lança álbuns curtos, de 11 a 12 músicas; não é como se estivéssemos saturados.

Fazendo um contraponto negativo, “Naeem” não me anima desde a primeira vez que foi apresentada ao vivo em 2016, com um refrão beirando o insuportável; e “Salem” é uma balada com tanto sal quanto o Cruzeiro de Mano Menezes.

Aliás, num geral, “i,i” soa como um álbum de Bon Iver, light, com redução de sal, mais saudável e coletivo, sem tantas soluções individuais, dando valor ao coletivo e as ideias de todos, nesse gigantesco grupo de pessoas talentosíssimas; assim como o Barcelona de Pep Guardiola.

8.2

Anterior
Anterior

Crítica | Antes da Meia-Noite

Próximo
Próximo

Crítica | Ilha do Medo