Crítica | Paddington
Vamos fazer um exercício de memória. Tente se lembrar de algum personagem icônico de sua infância. Buzz e Woody talvez sejam dois dos principais. Simba ou até mesmo Peter Pan podem aparecer nas recordações de alguns, mas definitivamente criar um personagem expressivamente popular com potencial para se tornar um clássico é algo muito raro.
Partindo desse princípio, é impossível imaginar um bom personagem a base de ''CGI'', com uma boa história, fazendo parte de um ''live action'', e a trajetória do cinema nos da motivo para tal desconfiança. Passando por ''Stuart Little'' e ''Garfield'', que conseguem ser bons, mas nada memoráveis ou relevantes, é um desapontamento atrás do outro. ''Marmaduke'', ''Alvin e os Esquilos'' e ''Os Smurfs'', todos apelativos e funcionais para o público infantil, mas totalmente dispensáveis e sem qualquer objetivo ou propósito a não ser fazer dinheiro. Com todo esse histórico de decepções era compreensível que ninguém esperasse muito de Paddington. Bom, todo mundo, felizmente, estava enganado.
Paddington é uma adaptação encantadora e charmosa, extremamente engraçada e divertida, cativando tanto crianças quanto adultos.
Uma das melhores características do filme é que a simplicidade fala alto aqui, se tornando irresistível. Ao introduzir o começo da paixão dos ursos de ''Darkest Peru'' por marmelada, nos é mostrado um ''flashback'' em preto e branco que não perde tempo explicando detalhes, ou o porquê disso ou daquilo. O longa mostra somente o necessário e nos da apenas aquilo que precisamos para fluidez da história, achando assim o ritmo perfeito: leve, rápido, cômico e simples.
O trabalho de voz de Ben Whishaw é perfeito. O sotaque britânico intrinsecamente educado e politizado é uma das melhores coisas do filme por dois motivos: Paddington ainda é teoricamente uma criança e, como todos podem notar, um urso. É estranhamente engraçado o tom inocente e o sotaque forte em um urso tentando se adaptar e conquistar uma família britânica, enquanto nitidamente não tem noção nenhuma do que está fazendo fora seguir seus instintos.
As atuações são todas excelentes. Sally Hawkins e Hugh Bonneville são o contraste perfeito entre emoção e razão. Mesmo caindo em alguns estereótipos, a família Brown funciona em todos os seus aspectos e a constante evolução do relacionamento entre eles e Paddington é o que realmente move o filme e o da força e peso emocional. E por mais incrível que pareça, a história também conta com uma ótima vilã. Nicole Kidman, como Millicent, é obcecada pelos ursos da ''Selva Peruana'', tem uma boa motivação e consegue ser ameaçadora o suficiente para causar preocupação.
Depois de inúmeras tentativas do cinema em ser bem sucedido criando personagens computadorizados, Paddington apareceu fascinantemente adorável, e não só para ser amado pela família Brown, mas por todas as famílias ao redor do mundo.
8,5