As 50 Melhores Músicas de 2017

O ano na música em 2017 refletiu de certa forma a turbulência que foi o mundo. Presidentes malucos, escândalos políticos, guerras físicas e de ideias e a lista segue. Curiosamente as melhores músicas vieram de artistas que decidiram ou tratar destes problemas diretamente ou fugir deles e tentar achar conforto nas pequenas coisas. Foi um ano em que as novas escolas do rap e do R&B se formaram e modificaram os patamares de ambos os gêneros e que artistas veteranos voltaram com força. Enfim, estas são as 50 músicas que melhor resumem um ano que, apesar de não tão bom como seu antecessor, mostram que a década em que estamos continua rendendo frutos.


Capa de Courtney Barnett & Kurt Vile - Lotta Sea Lice

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Courtney Barnett & Kurt Vile

"Over Everything"

O primeiro single de Courtney Barnett e Kurt Vile foi o prelúdio perfeito da qualidade que ouviríamos no primeiro álbum da dupla, “Lotta Sea Lice”: uma união na qual os dois artistas trazem o melhor do outro para a mesa. A música é leve, fluida e transita bem entre os gêneros que os dois dominam. O resultado são 6 minutos que passam rápido e criam uma atmosfera que nos transporta para uma estrada perto do mar, a caminho de um lugar refrescante para deixar a mente mais leve.


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Sampha

"(No One Knows Me) Like the Piano"

No terceiro single de seu álbum de estreia, Sampha desfila suas habilidades no piano enquanto faz uma dedicatória ao instrumento sutilmente disfarçada com camadas de nostalgia relacionadas com sua infância. É uma música vulnerável e essencialmente bonita. 


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Migos

"T-Shirt"

Em algum momento entre 2016 e 2017 foi estabelecido que Migos é que melhor do que Beatles. "T-Shirt", um dos raps mais contagiantes do ano é um dos principais motivos para isso, desde os versos perfeitamente intercalados, o refrão poético de Quavo e o vídeo que mais parece uma obra de arte. "Seventeen five, same collor t-shirt", eles professam.


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47

 

Portugal. The Man

"Feel It Still"

Portugal The Man talvez tenha sido o ato de sucesso mais inusitado em 2017. Apesar de seu álbum não ter sido um hit e nem manter o mesmo alto nível de seu principal single, "Feel It Still" justifica esse sucesso por si só. Revigorante e musicalmente retro, a faixa conta com excelentes cordas de baixo e trompetes nos momentos certos, aliados aos vocais em semi falsete e a faixa se torna uma música que, quando toca, é impossível de ficar parado.


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Juicy J

"Flood Watch"

Juicy J talvez nunca se torne um rapper realmente relevante, mas na melhor música de seu quarto álbum de estúdio ele e Offset encaixam perfeitamente suas performances com o piano de fundo. 


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Kamasi Washington

"Truth"

O mago do jazz moderno traz outra obra excepcional. "Truth" tem 13 minutos de puro jazz, de forma envolvente desenvolvendo os conceitos que Kamasi prefere deixar que sua clarineta fale por ele.


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Selena Gomez

"Bad Liar"

Em mais um ano de crescimento musical, Selena Gomez pode não ter lançado nenhum disco, mas mostra com "Bad Liar" que continua a amadurecer e encontrar um som característico, misturando sua voz de boa garota com a confiança de uma mulher formada.


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Cícero & Albatroz

"A Cidade"

Em “A Cidade”, Cícero entrega uma de suas obras mais instigantes em muito tempo. A música é densa, profunda, cinza, sem deixar de ser acessível. Muito bem construída e tocada, a obra faz um retrato autêntico e duramente realista da vida na metrópole brasileira. 


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Joey Bada$$

"Temptation"

Joey Bada$$ é um do grupo de rappers que está cada vez mais abrindo o gênero para outros caminhos. Com uma performance dotada de quase incontroláveis medo e desespero, uma pequena luz de esperança pode ser percebida nas entrelinhas deste que é seu melhor single.


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41

 

Xênia França

"Pra Que Me Chamas"

Xênia França já está ativa faz algum tempo no cenário da música nacional, no entanto, apenas em 2017 lançou seu primeiro disco, “Xênia”. Em um álbum rico em textura, conteúdo lírico e boas performances, o destaque vai para “Pra Que Me Chamas”. Elementos do hip-hop e do neopop se misturam a influência da MPB e dos ritmos do nordeste. Tudo isso se une e dá alicerce à Xênia para, com sua bela voz, falar de preconceito, estereótipos, abuso, misoginia. Falar com propriedade, mas de maneira bela.


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N.E.R.D. feat. Rihanna

"Lemon"

Com uma batida insistente, uma mixagem tecnicamente perfeita e uma performance tão engraçada como dominante de Rihanna, "Lemon" é uma música social disfarçada de hit, e não há nada melhor do que isso. Na limonada liderada por Beyoncé, Pharrell e Rihanna são alguns dos melhores limões da safra.


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Princess Nokia

"Bart Simpson"

Mesmo ainda escondida os holofotes, a jovem artista de Nova York traz com seu novo álbum muito da sua vida na cidade e da rica musicalidade que o hip-hop nova iorquino carrega. "Bart Simpson" é uma dura, contemplativa revisita à momentos difíceis de sua vida, que sucede tanto lírica como sonoramente. 


Lana Del Rey - Lust for Life

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Lana Del Rey

"Love"

Apesar de possuir uma coleção de grandes canções, o quarto álbum de estúdio de Lana Del Rey, “Lust for Life”, peca por não conseguir unir com excelência as velhas influências de Lana com seu moderno baroque pop. “LOVE” é a exceção. Nessa faixa, Lana encontra o equilíbrio perfeito entre o novo e o velho, tanto na brilhante letra quanto na produção, que remete às melhores faixas de “Born to Die”, mas com uma pitada generosa de maturidade. A música utiliza da sequência de 4 acordes mais clichê da música pop, porém, é boa suficiente para que a perdoemos por isso.


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Rincon Sapiência

"Vida Longa"

Construída principalmente em cima de um riff de guitarra e de uma batida intercalada, "Vida Longa" funciona como um pensamento pessoal de Rincon Sapiência sobre a bagunça que o Brasil se encontra. O tom da faixa é contemplativo, reforçado pelo lindo final com a flauta e, mesmo sem encaixar todas as rimas, Rincon dá uma aula de lirismo. 


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Kesha

"Praying"

Existem poucas coisas tão gratificantes para o ser humano quanto ver aquele que passou dificuldade conseguir dar a volta por cima. Em 2017, Kesha o fez. Após 5 anos longe do showbiz marcados por acusações de assédio, traições e diversos traumas, a cantora voltou à indústria com o trabalho mais sólido da sua carreira e um dos melhores álbuns pop do ano, “Rainbow”. E o carro chefe do disco é “Praying”. Uma canção forte em todos os sentidos da palavra, um grito de guerra. O desabafo sem rancor na letra é completamente palpável e, mais que isso, admirável. Assim como é admirável a performance vocal de Kesha, a produção e toda a instrumentalização da faixa. Bem-vinda de volta, Kesha.


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The xx

"On Hold"

Em um curto espaço de tempo, o xx tornou-se uma banda importante e influente para a música nos anos 2010. Lançaram dois discos bons e se superaram em 2017 com “I See You”. O terceiro disco superou os anteriores por, finalmente, tirar proveito do máximo talento dos três integrantes da banda- principalmente de Jamie xx. O exemplo perfeito desse crescimento é “On Hold”: Romie e Oliver entregam uma letra boa e penetrante, vocais precisos, guitarra e baixo que remetem ao auge do New Order; Jamie une isso tudo a uma batida pulsante e faz um uso de samples do mesmo nível de qualidade do uso feito pelo Daft Punk. Uma bela faixa, que vai ser lembrada como uma das melhores da banda por bastante tempo.


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Criolo

"Menino Mimado"

Que Criolo sempre flertou com o samba, não é nenhum segredo. Contudo, em “Espiral da Ilusão”, o flerte vira caso sério. O primeiro disco do artista com foco total no samba põe sob o holofote o talento que o rapper tem como sambista, cantor e, é claro, poeta. No centro do palco está “Menino Mimado”. A canção tem a boa execução, a qualidade instrumental, a força narrativa e a relevância na mensagem necessárias para ser um potencial clássico.


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St. Vincent

"Pills"

“Masseduction”, como todo, é um dos trabalhos mais fracos na discografia extremamente sólida de St. Vincent. Entretanto, possui algumas canções verdadeiramente ótimas. Dentre elas, provavelmente a mais subestimada é “Pills”. A ironia, o humor ácido e a crítica social sobre o crescente e assustador consumo de remédios e drogas pelas pessoas, tudo isso é feito com elementos musicais que dão muito mais força à ideia da canção. A produção rouba muito dos melhores momentos do álbum “St. Vincent” da melhor maneira possível e, de quebra, a artista ainda nos presenteia com um dos melhores solos de guitarra de sua carreira.


Capa de Lorde - Melodrama

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Lorde

"Perfect Places"

"Perfect Places" é um single pop puro, eficientemente produzido, mas que sucede justamente em tratar a adolescência da forma leviana e mágica que se espera. A pergunta é simples. Qual o seu lugar perfeito no mundo? Lorde ainda não sabe o dela, mas se diverte muito procurando e se perguntando se ele realmente existe. 


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Kendrick Lamar

"FEAR"

Kendrick Lamar cimentou seu status como melhor e maior rapper do planeta com DAMN. e em FEAR ele traça todos os seus medos desde os sete anos de idade, com uma franqueza e riqueza em detalhes quase intrusiva. Mesmo sua música sendo um porta-voz para a cultura negra nos Estados Unidos, Kendrick Lamar, pessoa, possui medos que qualquer pessoa possui. Ver um artista em seu auge se mostrar tão vulnerável é algo de especial. 


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HAIM

"Want You Back"

Tem algo sobre a maneira que as irmãs Haim compõe e executam suas canções que simplesmente nos transporta no tempo. Algumas canções parecem ter vindo diretamente dos anos 80, outras parecem ser plenamente atuais, algumas conseguem a façanha de fazer os dois ao mesmo tempo, como “Want You Back”. Não parece que voltamos aos anos 80, mas que estamos revivendo eles no futuro. A canção poderia ser descrita como um equivalente musical do episódio “San Junipero” de Black Mirror, nostalgia daquela época da melhor forma possível, trazendo apenas as boas influências e reinventando-as em forma de um pop deliciosamente cheio de groove.


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Harry Styles

"Sign of The Times"

O primeiro single de Harry Styles como artista solo surpreendeu desde o primeiro play: um artista pop, vindo de uma boyband, tem em sua primeira música quase 6 minutos de duração? Basta um play para entender porque isso não é nenhum problema: o artista pop quer virar um astro do rock. E em “Sign of the Times”, Harry demonstra competência para tal desafio. A influência de David Bowie e Elton John é clara, mas em nenhum momento a faixa parece uma cópia ou revival: ela tem força, verdade artística e anda com as próprias pernas. Infelizmente, o restante do primeiro álbum de Harry Styles não manteve o nível dessa faixa, contudo, ela se manteve como um dos destaques do ano e é responsável pela atenção que devemos prestar a quaisquer novos lançamentos do jovem garoto britânico.


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Miguel

"Banana Clip"

É praticamente impossível resistir à "Banana Clip", a música que resume o conceito de "War & Leisure" da melhor forma. Miguel relaciona mísseis nos céus com a garota que ama, utilizando sua voz maravilhosa sobre uma atmosfera quente e paradisíaca, construída em cima de um baixo constante, uma leve batida e uma excelente harmonia entre a performance de Miguel e os backing vocals providenciados por ele próprio. 


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Vince Staples

"Big Fish"

Vince Staples surge como o mais talentoso da nova leva de rappers e provou isso com um excelente follow-up ao seu já ótimo álbum de estreia. "Big Fish Theory", apesar de não possuir nenhuma música espetacular que se destaque do resto, está resumida em um single que pode ser tocado em qualquer festa, mas também pode ser estudado por todo o peso que traz em suas letras. Não importa quanto sucesso você faça, sempre vai haver um peixe maior. 


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Homeshake

"Every Single Thing"

O Homeshake tem um som diferente. Desde o seu primeiro álbum isso é perceptível. Ao longo dos anos, essa autenticidade se manteve muito constante no seu trabalho, enquanto suas habilidades como produtor e compositor foram aprimoradas. Em “Every Single Thing”, every single thing it’s in place. Os samples, os sintetizadores, a bateria eletrônica, os vocais: tudo trabalha em perfeita harmonia para entregar uma música que é dançante, melodiosa, sensual e atmosférica sem deixar, é claro, de ser autêntica por nenhum segundo.


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Baco Exú do Blues

"Esú"

A batida trap sintética, os vocais distorcidos se alongando ao fundo, a musicalidade quase psicodélica são elementos excelentes, mas o que torna "Esú" a melhor faixa de rap brasileiro de 2017 é a performance rápida e energética e a incessante e assombrosa dúvida quanto à sua própria existência. O que somos, de onde viemos, os deuses existem, eles nos temem? São reflexões comuns, mas tomam uma dimensão enervante nesta excelente faixa de Baco Exu no Blues. 


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Tim Bernardes

"Eu Quis Mudar"

Tim Bernardes está no coração de uma das melhores novas bandas da cena nacional em atividade, “O Terno”. Assim sendo, o lançamento de seu primeiro álbum solo, “Recomeçar”, não passaria despercebido nem sem expectativas pelo público nem pela crítica. Felizmente, o disco é realmente bom. Entre as pérolas da tracklist está “Eu Quis Mudar”, faixa que traz na letra uma poesia sobre arrependimento, mudança, tempo, dúvidas e ir em frente com uma instrumentalização belíssima que exibe influências de Nick Drake, Beatles e Fleet Foxes. Tudo isso numa única canção, que acaba sendo uma das melhores e mais tocantes do disco - e do ano.


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Fleet Foxes

"Third of May / Odaigahara"

Denso, complexo, profundo. O terceiro álbum do Fleet Foxes é um passo em uma nova direção na discografia do grupo, que embarca em sons mais rebuscados, estruturas musicais um pouco menos acessíveis, mas sem perder a energia e o brilho de suas melodias. No epicentro do disco está “Third of May / Ōdaigahara”. A faixa de quase 9 minutos condensa quase todas as virtudes do Fleet Foxes e ainda as combina com a densidade da instrumentação e a complexidade das ideias de “Crack-Up”. A música é enérgica, vibrante e brilhante. Se “White Winter Hymnal” poderia servir de hino para um grupo de jovens que busca sobreviver ao frio da montanha, “Third of May” tem a força de hino para uma multidão em busca de liberdade. 


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Mallu Magalhães

"Você Não Presta"

Mallu Magalhães realmente se superou em seu terceiro disco, “Vem”. Entre as ótimas faixas do álbum está a fabulosa “Você Não Presta”. Divertida, animada, irônica e ao mesmo tempo rica e lustrosa numa produção digna dos melhores sambas do século XX. Sim, a artista se mostrou, no mínimo, ignorante em relação a certas questões raciais durante o lançamento desse single e do disco. Contudo, musicalmente, entregou uma ótima música, mostrando também que Marcelo Camelo (marido da artista e produtor desse disco) talvez seja melhor produtor musical do que artista solo.


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Kelela

"Frontline"

Em um dos melhores anos do R&B nesta década, Kelela acabou ficando na sombra de outros nomes que explodiram para o mainstream em 2017, mas "Frontline" é facilmente um dos singles mais interessantes a ficarem abaixo dos radares. Sua performance é confiante e sexy na medida certa e as letras, apesar de não serem exatamente originais, servem seu propósito da melhor maneira. 


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Perfume Genius

"Slip Away"

"Slip Away" é a melhor faixa do novo álbum de Perfume Genius, um dos jovem artistas mais promissores do art pop norte-americano. Aqui ele demonstra suas habilidades no controle da produção, alternando cordas e batidas, abrilhantando as letras sobre um relacionamento partido com sua performance vocal propositalmente controlada. Lembra muito Grimes, se fossem artistas que vivem no mundo mainstream um remix não seria nada mal. 


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Paramore

"Hard Times"

“Hard Times” é a melhor faixa do ótimo “After Laughter” por alguns motivos muito simples. Uma canção leve, divertida, super funky e cheia de ritmo, muito bem escrita, com produção super assertiva: dá espaço para os músicos tocarem com liberdade e virtuosismo ao mesmo tempo em que insere sintetizadores e instrumentos diferentes do que o usual para a banda até então. “Hard Times” prova que o Paramore não é mais uma banda teen e mais que isso, sabe fazer pop de alto nível.


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Calvin Harris, Frank Ocean & Migos

"Slide"

Em uma sobrevida de Calvin Harris, "Slide" é a melhor faixa em um bom álbum que tem como principal foco ser a playlist do seu verão. Aqui Frank, Quavo e Offset resgatam seus desejos antes da fama, querendo estar na pele de alguém rico e curtir todos os dias. Não se precisa saber muito, apenas que é a música que seu verão precisa.


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Lil Uzi Vert

"XO Tour Life"

"XO TOUR Llif3" presta homenagem à tour de The Weeknd a qual Lil Uzi abriu durante 2016 e 2017. Durante esta tour o relacionamento dele com sua ex Brittany Bird piorou, assim como seu abuso de drogas. Essa montanha russa de acontecimentos é representada pela música de hip-hop mais sombria de 2017. 
Aqui Lil Uzi coloca seus demônios para fora, com uma performance mais dotada de loucura do que depressão como as letras poderiam sugerir, é quase como se ele se divertisse com tudo isso. No refrão é quase como se pudesse perceber um sorriso em sua voz, algo insano sendo que ele termina com a seguinte frase: "all my friends are dead, push me to the edge". 
Talvez seja uma tentativa sua de entender e aceitar toda a fama, ou talvez um pedido de socorro e transformar isso em um hit não é uma tarefa fácil.  


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Mount Eerie

"Real Death"

Poucas vezes a morte foi retratada de forma tão verdadeira em uma música. Mount Eerie entrega, com apenas sua voz e violão, um relato dos últimos dias de sua esposa. É triste, comovente e, de alguma forma, reconfortante saber que talvez ela própria já soubesse o que iria acontecer. São poucas linhas cantadas aqui, mas elas representam anos de amor e sofrimento.


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Tiê

"Amuleto"

Tiê tem sido um dos destaques dos últimos anos da música nacional. Criativa poética e musicalmente, consegue transitar entre gêneros e ritmos mantendo a personalidade.

Existe um estigma que correlaciona dor e arte, a crença de que boa arte é feita por quem está sofrendo. Essa afirmação é um pouco ilusória, afinal, não adianta a dor sem a habilidade a técnica para produzir tal arte. Em “Amuleto”, Tiê faz uma obra confessional, com uma dose de realismo aumentada por endereçar a música diretamente a “João”. A letra é um romântico aviso ao “João”, pedindo que ele tome cuidado com o amor que tem nas mãos e a minimalista produção com violão e cordas sublinha o sentimento com perfeita precisão. Uma das músicas mais belas do ano, feita por uma artista que sabe usar técnica e emoção em perfeita harmonia.


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Tyler, The Creator

"See You Again"

A transformação de Tyler, The Creator é uma das mais gratificantes e revigorantes do hip-hop nos últimos anos.

O artista que antes utilizava diversos adjetivos pejorativos quanto à homosexuais hoje aflora em si sentimentos por pessoas do mesmo sexo e o reflexo disso em sua música foi extremamente positivo. 
"See You Again" é uma apaixonada composição que mistura um R&B/pop leve com um excelente verso de Tyler sobre uma pessoa que talvez nem exista.

Independente disso, a devoção nas performances dele e de Kali Uchis e a atmosfera inspiradora não deixam que as letras se tornem sentimentalmente baratas. Além disso, a ambiguidade quanto ao gênero desta pessoa que Tyler se declara adiciona camadas de especulação essenciais para essa que é uma das melhores músicas de amor de 2017.


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Drake

"Passionfruit"

"Passionfruit" é a palavra em inglês para maracujá, talvez por ser uma fruta que te deixa calmo. "Passionfruit" a música é uma canção de R&B com fortes influências tropicais e de dancehall, com uma batida leve e abrilhantada com os melhores vocais de Drake desde "Hold On We're Going Home". Nela ele comenta sobre como é difícil manter um relacionamento a distância, com um balanço perfeito entre paixão e sofrimento. Não tinha como essa música não ser sensacional.


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Björk

"The Gate"

A essa altura do campeonato, já está difícil ser supreendido por Björk. No entanto, ela ainda consegue o fazer. Em “The Gate”, a artista islandesa utiliza de recursos eletrônicos e de uma produção tão distinta de qualquer coisa usual que faz de sua música uma experiência maior que o auditivo, é quase visual, imagética. Björk nos leva para outra galáxia na canção, provando que continua criativa e genial como sempre.


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Kendrick Lamar

"DNA"

O que você tem no seu DNA? O que ele fala sobre você? Kendrick tem lealdade e realeza, mas também tem poder, dor e alegria e as despeja com uma força virtuosa sobre mais uma batida insana de Mike-Will-Made-It. É o single mais potente e pesado de sua carreira, um rap que excede em performance, letras e batida e um dos principais testamentos de seu excepcional talento. 


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10

 

Milton Nascimento e Tiago Iorc

"Mais Bonito Não Há"

Uma união inesperada, um resultado gratificante. O clássico encontra o novo na canção original de Milton Nascimento e Tiago Iorc, uma faixa que remete em todos os aspectos positivos aos clássicos da MPB que ficam cada vez mais raros. A letra é absolutamente linda, a produção é grandiosa sem ser exagerada e as cordas elevam a aura da composição. O mais interessante dessa faixa é perceber a troca que acontece entre os dois artistas: a música aproveita as virtudes como compositores de ambos, assim como suas virtudes como cantores. O timbre baixo de Milton completa perfeitamente a voz alta de Iorc e vice-versa, e todos os elementos se unem de forma uniforme em “Mais Bonito Não Há, faixa que acaba sendo, provavelmente, uma das melhores gravações de MPB de 2017.


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9

 

BROCKHAMPTON

"BOOGIE"

A boyband mais original desde a primeira boyband já feita lançou mais de 30 músicas este ano, mas nenhuma delas é tão inegavelmente divertida como "BOOGIE". Trompetes incessantes, sirenes ao fundo, uma batida insistente. Após atingirem um pouco de fama é normal que um grupo de jovens queira ostentar, mas conseguir fazer isso sem perder as camadas de complexidade é algo difícil. E, adivinha, eles conseguem. 


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8

 

Lorde

"Liability"

Voz inconfundível, compositora habilidosa, dona de alguns hits com batida irresistível que dominaram pistas de dança em 2013. Do repertório de Lorde até então, não se via sinal dessa artista mais introvertida, sensível, melancólica. Em “Liability”, Lorde abre o coração e deixa seu talento como cantora e compositora ser o centro das atenções numa linda balada. Acompanhada apenas do piano, fala da dificuldade de ter relacionamentos, quaisquer que eles sejam, quando se está distante o tempo todo. Fala de maneira discreta, mas verdadeira e palpável. Lorde se entrega na música, deixando a nós o convite para nos entregarmos também.


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7

 

LCD Soundsystem

"How Do You Sleep?"

O LCD Soundsystem nunca teve dificuldade de criar faixas épicas. Temos ao menos uma em cada um dos álbuns da banda. No disco de retorno das cinzas de James Murphy e companhia, não foi diferente. American Dream veio como o pontapé inicial de uma nova fase, mais madura, mas ainda extremamente criativa da banda e traz na tracklist a fabulosa “how do you sleep?” O desabafo de James Murphy sobre o fim da sua turbulenta amizade com o co-fundador da DFA Records, Tim Goldsworthy, não parece bravo ou rancoroso, mas é intenso e enérgico do início ao fim. São 9 minutos e 12 segundos precisamente bem construídos, bem produzidos, bem muxados, bem tocados. LCD Soundsystem fazendo o que faz de melhor.


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6

 

Frank Ocean

"Chanel"

Talvez Frank Ocean nunca tenha sido tão criptidico como em "Chanel". Uma música repleta de referências externas e aparentemente reais sobre o racismo e preconceito que ele enfrenta. As histórias de luta de seu namorado que é bonito como uma garota no começo e, no fim, sobre como bloquearam seus cartões de crédito. Em outros momentos, como na ponte e no verso após ela, traços de uma declaração de amor podem ser encontradas em meio a metáforas sobre a fortuna que ele possui. 
O peso da produção, com um piano profundo, uma batida de percussão com som abafado e uma flauta distante, reinforçam sua sempre perceptível busca por sons diferentes, que reflitam o atual estado em que se encontra e dão uma dimensão ainda mais caótica à canção. Os próprios vocais se alternam de uma simples conversa à um quase choro, à um tom de força a cada refrão. "I see both sides like Chanel", a marca possui dois "Cs" opostos, o que significa ver os dois lados, já é algo mais complicado.
Enquanto decifrar "Chanel" possa parecer impossível, aproveitar uma das faixas mais densas e belas do ano é um presente vindo de um dos artistas mais interessantes do nosso tempo.
 


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5

 

SZA

"Love Galore"

O jovem talento mais quente de 2017 é uma mulher de 26 anos, apaixonada o suficiente para achar que o amor é o suficiente, mas ainda jovem demais para se sentir segura sobre isso. 
"Love Galore" e seu R&B drogado, que empresta das tendências tropicais de Drake, constrói um dos hinos de amor mais crus de 2017. A voz de SZA se extende de forma que enfatiza cada palavra do jeito certo ("love", "better", "ni**as", "bitc**s", "weekends") e o verso de Travis Scott, apesar de direto e simples, adiciona nudez para uma faixa já totalmente sem pudores. Amor não tem fronteiras nestes dias, com tanto que seja muito. 


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4

 

Father John Misty

"Ballad of the Dying Man"

É complicadíssimo eleger a melhor música de “Pure Comedy”. E, verdade seja dita, não é uma tarefa com uma única resposta. São diversas as músicas excelentes no último disco de Father John Misty. Porém, talvez a que condense mais qualidades seja “Ballad of the Dying Man”.

A crítica presente na letra nos faz pensar (e muito), mas é feita de maneira tão autoindulgente, irônica e num ritmo de narrativa tão deliciosamente envolvente que ouvir a música não é pesaroso ou entristecedor. A instrumentação super orgânica, humana e bem produzida transparece as influências do artista, mas mostra muito mais sua própria evolução como músico e produtor do que suas referências. Dessa forma, serve como alicerce para que a canção seja como embarcar num breve conto tragicômico, muito bem contado, pelo Tio Josh Tillmann.


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3

 

Jay-Z

"The Story Of OJ"

Como resumir toda a história da escravatura negra na America com uma única música? Não existe forma de realmente fazer isso, mas talvez o mais próximo a conseguir seja Jay-Z. 
Ele já teve suas tentativas anteriormente, com "99 Problems" sendo a melhor delas, mesmo que sua carreira não seja focada nos problemas e sim no sucesso de ser um homem negro e milionário. Mas, talvez com "O.J.", uma faixa produzida de forma inteligente  e atenciosa por NO I.D. em cima de um sample muito bem utilizado de Nina Simone, ele tenha chegado ainda mais perto. O vídeo, talvez o melhor do ano, ajuda Jay-Z a falar que, na América, não importa o que você faz, se torna ou é, você vai sempre ser negro aos olhos de todos. 
Um negro nos Estados Unidos pode vir do campo (de algodão ou de futebol) ou das ruas, pode ser um viciado ou traficante, pode vir de grandes casas ou de fazendas, pode ser garçon ou até mesmo o dono. Ainda assim, é negro. 


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2

 

King Krule

"Dum Surfer"

É um desafio passar por "The Ooz". Um álbum incerto, pesado e de certa forma não finalizado. Com conceitos obscuros e ideias sobre o mundo difíceis de serem digeridas. 
"Dum Surfer" sucede em trazer estes conceitos da forma mais divertida possível, com Krule utilizando rimas eficientes que não deixam o absurdo das letras te desligar da faixa. Ele fala sobre vomitar nas ruas, sobre estar em uma festa onde uma banda toca uma música terrível, sobre garotas europeias, sobre sua própria morte e sobre como os Deuses o maltratam. 
A sonoridade densa enfatiza o terror das letras. O jazz é poluído, com instrumentos aparecendo e se esvaindo a todo o momento e a voz de Krule é melancólica no mesmo nível em que é debochada. É uma música difícil, mas estranhamente atraente e que está num nível acima da maioria dos singles lançados este ano. Um que poucos teriam coragem de tentar chegar. 
Krule é um artista com uma visão muito própria, e isso é sempre um fator valoroso.


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1

 

Kendrick Lamar

"HUMBLE"

Kendrick Lamar, antes de "DAMN", já era o melhor rapper de sua geração e um dos melhores de todos os tempos, mas faltava uma coisa que ele ainda não tinha atingido: um hit. Sua feature em "Bad Blood" de Taylor Swift salvou a música e atingiu número 1, mas ele apenas embarcava no sucesso estrondoso da cantora entre 2014 e 2015. Até que "HUMBLE" apareceu. 
Ele claramente trabalhou para isso. A batida de Mike-Will-Made-It supostamente iria para Gucci Mane e não é nada exatamente diferente de outros hits por aí. O piano pesado e a linha de baixo 808 pulsante criam uma atmosfera quase sinistra,  tomada pela performance em forma de ataque de Kendrick. Diferentemente de muitas de suas grandes músicas não há um conceito definido, ele está se gabando por tudo que conquistou e enquanto ele próprio falou que o refrão é direcionado para si mesmo, é impossível não sentir a faixa como um ataque a outros rappers.
Ainda assim, Kendrick consegue com linhas esparsas abrir discussões sobre a brutalidade da polícia, a superficialidade das redes sociais, a relação de sua vida com a religião, sua ascensão das ruas e a depressão que o atinge já por tanto tempo. Ele fez com "HUMBLE" e boa parte de "DAMN" o que faltava em sua carreira, o ponto de colisão entre qualidade e apelo comercial. 
Kendrick é rei e "HUMBLE", além de confirmar isso, é uma mensagem para si próprio. Não importa o quanto você tenha, a humildade não pode ir embora. 


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