Crítica | Abominável
Para escrever sobre filmes, inevitavelmente você deve assistir o maior número possível deles. Isso é um fato.
A obviedade dessa frase é bem auto-explicativa. Cada vez mais, conforme dificuldades relativas a vida adulta, como novos empregos ou uma rotina mais entediante, constantemente fica claro que estudar a teoria por si só não traduz os efeitos da prática implicados em algo. Seja trabalhando, seja praticando algum esporte, seja ouvindo um álbum ou vendo um filme. Você pode ser um total Expert teórico sobre basquete ou música, mas isso não te faz necessariamente bom nessas coisas. Em outras palavras, quanto mais você faz algo, mais noção do que é bom e do que é ruim será aprofundada. Será?
Dos maiores estúdios americanos produzindo animações, a Pixar tem 21 filmes, a Walt Disney 63 e a DreamWorks incríveis 66 histórias - as quais pouquíssimas me marcaram-.
Dito isso, Abominável é tecnicamente um bom filme. Visualmente, possui composições tão mágicas quanto o jovem Yeti a quem a narrativa reage. A ambientação, que se passa na China, é algo que agrada, apesar de sua representação extremamente Hollywoodana, mas o claro destaque são os cenários relacionados a natureza, que misturam o melhor do mundo real traduzidos em sua belíssima textura cartoonesca. A musicalidade também abraça muito bem a história, apesar da previsibilidade, dentro de um dos momentos mais envolventes do filme, o qual um cover de Yellow do Coldplay salta aos nossos ouvidos sem alguma necessidade. Não me levem a mal, eu amo “Yellow”, mas esse é o perfeito exemplo do porquê, na teoria, Abominável é funcional, mas na prática nem um pouco efetivo.
O protagonista que perdeu alguém importante pra si e prefere se isolar de sua família se relacionando com o ser “não humano” que vai lhe tornar um pouco mais humanizado conforme realizam a sua caminhada do ponto A ao ponto B. A sensação de déjà vu é constante, seja dentro dos padrões Dreamworks ou das animações em geral e historicamente funciona, porém a falta de coragem em se distanciar um pouco dessa fórmula traz a todo instante a impressão de uma mistura de “Como Treinar o Seu Dragão”, o “Bom dinossauro”, alguns elementos de “Kung Fu Panda” e até um pouco de “Kubo e as Cordas Mágicas”. Literalmente, é como se 90% do filme fosse reciclado de várias animações diferentes e qualquer chance de propor o menor momento de originalidade é jogado fora. Na verdade, a coisa mais surpreendente - e frustrante - do filme é como ele, em cada decisão que toma para o andamento da trama, sempre se inclina para a opção mais simples e previsível.
De um completo entusiasta sobre animações, é um pouco triste quando a criatividade da lugar a uma estrutura completamente rotineira dentro do gênero. Não que vindo do histórico da Dreamworks isso cause espanto, afinal, são muito mais erros do que acertos.