Crítica | Jogador Nº 1
Dentro de uma distopia dizimada por guerras, falta de recursos naturais e desigualdade social acentuada, existe uma utopia a uma rede wi-fi de distância. "Jogador Nº 1" conta a história de Wade (Tye Sheridan) e sua aventura no Oasis, um jogo imersivo de MMORPG tão popular no mundo todo que acaba virando uma sociedade virtual, substituindo quase por completo o convívio humano offline.
A sacada é que o criador do jogo, James Halliday (Mark Rylance), um aficcionado por cultura pop dos anos 80, faleceu e deixou uma herança escondida no Oasis. Uma herança que consiste em muito dinheiro e o próprio domínio do jogo que, neste universo, significa quase o domínio do próprio planeta. Desde então, Wade, outros jogadores e uma grande e poderosa empresa, encabeçada pelo vilão Sorrento (Ben Mendelsohn), têm explorado o jogo em busca de uma das três chaves que são necessárias para alcançar esse prêmio.
Baseado no livro de Ernest Cline, uma obra entupida de referências à cultura pop, "Jogador Nº 1" é um filme de Spielberg que, apesar de excepcional e complexo em se tratando de técnica e efeitos especiais, acaba facilitando muitos caminhos e possibilidades narrativas para passar sua mensagem de forma clara, sem muitos ruídos. Nessa simplificação, ele perde um pouco daquilo que a obra poderia conter em relação a oportunidades imaginativas e críticas à sociedade (conteúdo que transbordava no livro). Ainda assim, o filme continua dinâmico e muito divertido.
Ao invés de cair no caminho mais fácil e no truque sacana de virar uma ode ao saudosismo, o longa se mostra muito mais consciente de si do que os cartazes, trailers e publicidade em geral pintavam-no.
A lição do filme, trazida através da relação de Wade com seus amigos Aech/Helen (Lena Waithe), Art3mis/Samantha (Olivia Cooke), Daito e Sho ainda é super batida, mas cada vez mais essencial na contemporaneidade: todo mundo precisa aprender a conviver com outras pessoas. Ficar sozinho para sempre não rola. E aí o filme tem em sua essência - em menor escala - a mesma crítica que "The Last Jedi" e "Brigsby Bear" fizeram aos fãs de porão que se alimentam de nostalgia, isolamento e ódio a tudo que é diferente e novo.
Viver em sociedade é mais importante do que ter tudo do seu jeito. E o futuro não é realmente futuro se não avançarmos em conjunto.
"Jogador Nº 1" é uma adaptação concisa que, para isso, escolheu cortar aspectos mais fortes que estavam presentes no livro como algumas mortes, palavrões e até as terríveis consequências bio e fisiológicas que vinham com o ato de passar sua vida jogando vídeo-game num simulador. Isso, no entanto, não diminuiu o filme, apenas recalibrou seu público.