Crítica | The Weeknd - My Dear Melancholy

Em "My Dear Melancholy" The Weeknd retorna para o lado mais sombrio que lançou sua carreira em 2011, mas talvez nem o próprio Abel Tesfaye conheça os locais onde está pisando agora. 

Sexo, drogas e R&B. As três palavras que definiram a carreira de The Weeknd desde "Trilogy" em 2011 à "Starboy" em 2016. Ele que experimentou uma das ascensões mais impressionantes da música pop no século 21 foi moldada em cima de um estilo de vida sombrio e profano para a grande maioria dos ouvintes, mas que se provou atraente demais graças às suas incríveis habilidades de transformar este sub-mundo em boa música. Em seu novo EP, no entanto, ele deixa este mundo de lado para entregar um retrato da dor e atual estado de suas emoções após essa vida turbulenta que se tornou a sua ("XO TOUR llif3" encaixaria bem aqui). 

O que mais impressiona é sua entrega. Na excelente abertura, "Call Out My Name", sua voz batalha sobre um sample de "Earned It", subvertendo completamente o tema de "50 Tons de Cinza", o transformando em uma fria e assombrosa declaração de vulnerabilidade. The Weeknd a escreveu praticamente sozinho, assim como o resto do álbum, e fica claro aonde ele queria ir. Talvez o fim de seu relacionamento com Selena Gomez tenha sido o combustível, por mais que o fogo que esta faixa tem não esquente ou conforte sua alma. 

Talvez ele nunca tenha cantado tão bem, o suficiente para levantarmos a pergunta se Abel Tesfaye não é, hoje, o melhor cantor do planeta. 

Em "Try Me" e "Wasted Times" ele flutua entre aspectos de seu relacionamento tanto com Selena como Bella Hadid e, mesmo que as letras por vezes o coloquem como o apaixonado, a produção obscura te leva de volta às partes mais sombrias de "Echoes of Silence". Mais uma vez parece que ele preteriu letras complexas e provocativas à mensagens mais simples, deixando sua voz e a excelente produção carregada ditarem o ritmo, mesmo que isso não impeça ambas as faixas de soarem um tanto rasas quando comparadas com sua luxuosa sonoridade. Alie isso ao fato de The Weeknd parecer uma versão masculina e sombria de Taylor Swift por fazer um EP falando apenas sobre ex relacionamentos e o álbum pode parecer "reclamão" em excesso. 

Ao colaborar com Gesaffelstein ele vai mais a fundo. O DJ francês que estivera envolvido em "Yeezus" entrega a ele uma produção que lembra fortemente a abrasiva obra prima de Kanye West. Sirenes começam a música e se misturam à batidas cadenciadas, enquanto a voz de Abel funciona como o fundo perfeito, um túnel de uma noturna e urbana psicodelia, onde ele enfrenta os momentos mais perturbadores de sua carreira. "What makes a grown man wanna cry?" ele pergunta logo na primeira linha.. As mesmas sirenes iniciam "Hurt You" que, também com Gesaffelstein e com a participação de Guy-Manuel de Homem Christo (a.k.a. Daft Punk), utiliza a própria "Starboy" como sample e interpola "I Feel it Coming", com The Weeknd novamente subvertendo seu status intocável e despreocupado em ambas as faixas em uma balada sincera e melancólica. 

É quase como se ele passasse pelos cinco estágios da dor no EP, "Call Out My Name" é a negação de perder quem ama; "Try Me" a barganha, tentar negociar e reatar as coisas; "Wasted Times" a raiva pelo tempo perdido; "I Was Never There" a depressão"; "Hurt You" a aceitação. Em "Privilege", então, ele supera tudo isso e decide voltar para o início, quando drogas, sexo e álcool eram seu remédio para qualquer dor que sua vida podia proporcionar.

Há muito para se gostar e explorar em "My Dear Melancholy", que é facilmente seu trabalho mais consistente e intrigante desde "Trilogy". The Weeknd esqueceu os hits e retornou as suas raízes para entregar seu projeto mais pessoal que, mesmo não tão arriscado liricamente, serve para mostrar como sua visão de R&B ainda é incrivelmente mais rica e complexa que seus contemporâneos. 

7,8

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