Crítica | Eminem - Relapse
Depois da queda de qualidade em "Encore", Eminem se livrou das drogas e veio com "Relapse". Dessa vez o nome do álbum combinou com seu conteúdo.
Queda é uma coisa estranha de se falar sobre um álbum que vendeu mais de 10 milhões de cópias no mundo inteiro, mesmo que elas pareçam vazias quando comparadas à decepção artística que seu quarto trabalho de estúdio foi. Uma mistura de sons e ideias reutilizadas, sem metade da criatividade. "Relapse" deveria ser, então, um retorno a forma ou uma falha ainda maior, mas Eminem era tão popular que não havia jeito de não fazer sucesso, especialmente após cinco anos parado. Sua popularidade era tanta, que as pessoas nem prestavam atenção no que ele falava. Ele largou as drogas, teve problemas com outras celebridades, então tentou desaparecer dos radares. Ele era (e ainda é) o único rapper branco importante, talvez isso seja algo para as audiências, pois se fossem escolher por qualidade, teriam alguns nomes na sua frente em 2009.
Mas então o álbum saiu e provou que "Encore" não estava lá para ser a exceção. "Relapse" é, como o próprio nome já diz, uma recaída, uma queda, uma decepção, que só não foi pior por conta da mediocridade de seu antecessor.
Se podemos traçar um paralelo? Bem, "The Eminem Show" foi inteiramente produzido por Eminem e foi ótimo, "Encore" tinha bastante Dr. Dre e não funcionou tão bem, "Relapse" é praticamente só Dr. Dre e nos perguntamos o que aconteceu com um dos melhores produtores de todos os tempos. É uma colagem de sons feita de foram preguiçosa, sem identidade, com batidas e estruturas quase idênticas que, caso fossem trocadas, não fariam diferença alguma em qualquer faixa. Pegue o tempo de "My Mom" e acelere um pouco e você chega a "Insane", adicione as cordas de "Ass Like That" e você tem "Bagpipes From Bagdah". Troque os sons de fundo e "Hello" e "Same Song & Dance" são exatamente iguais. Outras tendências já comuns em álbuns de Eminem prejudicam o produto completo. Skits e intros sem sentido, rimas que se alongam mais do que deveriam, refrões simplórios, flows tão semelhantes em faixas distintas que parecem da mesma e toda, literalmente toda, música com a mesma estrutura de três versos.
Mas a produção não é o motivo de este ser seu pior álbum. "You're walking down a horror corridor /
It's almost four in the morning and you're in a / Nightmare, it's horrible, right there's the coroner" ele fala em "3 A.M.", dando ideia do que devemos esperar durante todo o álbum. A promessa é de um show de horrores, um álbum que tiraria toda a insanidade de seu cérebro e colocaria no papel, onde ele fala todos seus sonhos perversos, que para muitos não apareceriam nos piores pesadelos. Em "Stay Wide Awake" ele fala sobre estuprar mulheres, em "Same Song & Dance" sobre sequestrar e matar Lindsay Lohan e Britney Spears, a paquistanesa "Bagpipes From Baghdad" vê ele atacando Mariah Carrey e seu então marido Nick Cannon, em "Medicine Ball" ele volta a ir atrás de Christopher Reeve (Superman). Facilmente os piores momentos de sua carreira.
As letras são frequentemente repulsivas, você para de conectar a realidade com o que ele inventa, o que torna difícil a tarefa de encontrar os motivos para a existência desta loucura, o que era o trunfo de seus outros álbuns. Mesmo que, por vezes, ele consiga demonstrar suas habilidades como nas faixas iniciais "3 A.M." e "My Mom", não é nada que não tenha se visto antes, Eminem falando sobre sua infância, mas já foram tantas histórias sobre isso que a credibilidade nelas já está bem baixa. Os pequenos raios de criatividade não conseguem fazer peso contra todos os problemas do álbum. Os singles "We Made You" e "Crack a Bottle" são divertidos e "Déja Vu" tem um dos poucos contextos interessantes aqui onde ele fala sobre seus problemas com drogas, mas é uma faixa que sofre com outra produção reutilizada.
A cadência de Marshall Mathers ou a esperteza de Slim Shady não estão aqui, só o que resta é alguém que consegue criar rimas funcionais, mas que não dizem nada que não tenha sido dito antes. Dessa vez, ele baixou o nível do conteúdo para chocar mais uma vez.
O melhor momento é uma música feita por outro artista. "Beautiful" não pode ser considerada uma música de "Relapse", pois seus seis minutos valem mais que todo o resto do álbum. Com um maravilhoso sample de "Reaching Out" (Queen e Paul Rodgers), Eminem tem seu único momento excepcional, onde ele fala sobre sua depressão em uma inspirada investigação na mente de um homem confuso. É uma de suas melhores músicas e um momento de contemplação em meio a essa grande bagunça.
"Relapse" é tudo que não deveria ser. Eminem considera este como seu pior álbum e culpa a abstinência das drogas por isso. A produção tem um valor muito próximo do zero, suas rimas não são exatamente ruins, mas seu conteúdo é ofensivo e hediondo, sem parecer irônico dessa vez. Mesmo que possa sugerir que ele nunca mais fará um bom trabalho, não há formas de ele fazer um pior. Isso é uma boa notícia, certo?