Os 10 Melhores Filmes de Martin Scorsese

Talvez não haja momento melhor do que esse para falarmos sobre a ilustre carreira de Martin Scorsese.

Em meio à toda polêmica envolvendo sua posição sobre os filmes da Marvel (cof as quais concordamos cof) e com o “O Irlandês” sendo lançado por tempo limitado em todo o Brasil, talvez desde sua última colaboração com DiCaprio seu nome não esteja tão em alta. Não poderíamos perder a oportunidade.

Uma tarefa inglória e capaz de provocar revolta em fãs e admiradores de sua arte, listar em ordem de qualidade e relevância a extensa e renomada filmografia de Scorsese significa pegar dezenas de filmes, lançados com meio século de distância, e apontar qual deles, por quais motivos, foram mais marcantes e mais sobreviveram ao teste do tempo.

Inevitavelmente, obras primas ficaram de fora - e notem que optamos por deixar seus documentários para outra lista -, então, desde já, pedimos desculpas por dez ser um número tão limitante. Além disso, diferentemente de outras listas, incluiremos, além de breves comentários sobre a qualidade das obras, pequenas curiosidades acerca das produções.

Sem mais delongas, estes são os dez melhores filmes de um dos melhores diretores de todos os tempos.


10 | mean streets

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É possível… não, é correto dizer que o primeiro grande trabalho de Scorsese é, também, um de seus mais subestimados, mesmo que seja reconhecido por muitos como um verdadeiro clássico do cinema norte-americano.

Experimental e amplamente influente, “Mean Streets” (ou seus dois títulos brasileiros: “Cavaleiros do Asfalto” e “Caminhos Perigosos”) é como uma versão mais crua e realista das obras que tornariam Scorsese um dos maiores cineastas de todos os tempos. Quase um rascunho, baseado em emoção antes da razão, e profundamente mergulhado na parte mais obscura de vidas que preferimos acreditar que existem apenas nos filmes.

Apesar de ser seu quarto projeto (incluindo dois longas e um documentário anteriormente), este é o primeiro filme de Martin Scorsese que escreveu o roteiro baseado em experiências que vivenciou durante toda sua vida em Nova York. Tendo dificuldade para produzir o longa, uma das primeiras propostas exigia que o elenco fosse inteiramente composto por atores negros, no estilo Blaxploitation. Porém, a vontade do diretor era de um elenco de ítalo-americanos (assim como ele) e, com um orçamento de 500 mil dólares, conseguiu realizar o projeto como queria.

Ah, foi também a primeira parceria entre ele e um tal de Robert De Niro. Talvez já tenham ouvido falar.


9 | silencio

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Poucas coisas são mais desoladoras do que se encontrar desacreditado de algo que julgou como certo a vida toda. A dor de perceber que, talvez, esteja sozinho, quando sempre se apoiou em algo que considerava essencial para a própria existência, provoca um vazio no peito que dificilmente será preenchido novamente. Talvez nem o amor e a devoção daqueles que mais ama serão capazes de fazer isso.

“Silêncio” é, possivelmente, o trabalho mais desafiador de Martin Scorsese, pois apesar de ele já ter dado sua visão nada glamourosa sobre a fé e a religião no passado (“A Última Tentação de Cristo”, “Kundun”), aqui ele dilacera sua própria relação com Deus ao mostrar que as ações do homem sempre falam mais alto na Terra, e quando estes procuram causar dor e sofrimento, a luz divina pode causar esperança, mas nunca paz ou conforto.

Um projeto passional do diretor, ele teria lido o livro no qual baseou sua história em 1989, quando fora convidado por Akira Kurosawa para participar de seu filme “Sonhos”. Após quase trinta anos obcecado com a produção do longa, Scorsese declarou que o projeto vem lhe assombrando desde então, pois traz perguntas e dúvidas que ele jamais pudera responder.


8 | cabo do medo

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Um tema recorrente dos filmes do Scorsese é o apreço por contar a história dos antagonistas. Essa é a premissa de Cabo do Medo, um Thriller que acompanha a história de um estuprador que ao sair da cadeia persegue e aterroriza a família de um advogado que considera culpado por sua prisão. O medo contagia o público uma vez que sabemos do que Max Cady é capaz de fazer por vingança. A atuação de Robert De Niro é nervosa e testa os limites do público.

Ao melhor estilo do diretor somos absorvidos pela violência e somos forçados a nos colocar no lugar de um criminoso mortal, e até entender a relação dele com o mundo a partir de roteiro excelente e mais uma magistral direção para o currículo de Scorsese.


7 | o lobo de wall street

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Scorsese lembrou ao mundo sua capacidade de ser chocante. Não que esse não seja um elemento comum de todos seus filmes, mas em Lobo de Wall Street ele realizou uma chutada de balde fenomenal e de quebra fez a maior bilheteria da sua carreira. A história do golpista do mercado financeiro, Jordan Belfort é contada sob o estilo mais tradicional de Scorsese: narração em off, edição dinâmica e muitos crimes em tela. A interpretação de Leonardo DiCaprio é brilhante e nos faz acreditar e até gostar de cada ação repugnante do seu personagem. É vulgarmente cômico e comicamente vulgar.

O que Scorsese fez em “Lobo de Wall Street” foi levar ao limite nossa moralidade e por fim esfregar na nossa cara a facilidade com que abrimos mão dos nossos valores éticos em troca de algumas horas de diversão. Ele lida, claro, com os valores individuais e coletivos pois o arquétipo do sucesso, da pessoa que vive em uma mansão, tem uma esposa linda, filhos e todas possibilidades do dinheiro é o padrão impossível da ideologia capitalista à sociedade, a não ser que alguém esteja disposto a roubar de outros para chegar lá. É um filme surpreendente, chocante, repulsivo, engraçado e tenso que cada vez que eu assisto fico mais convencido da qualidade e do efeito crítico que Scorsese traz para a tela.


6 | ilha do medo

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Qualquer pessoa que julgue Scorsese como um diretor limitado no quesito gênero, é ou vítima de hipocrisia ou sofre de ignorância. Em “Ilha do Medo”, seu primeiro (e até agora único) mistério, ele prova que não apenas domina todas as convenções do gênero que abraça, mas é capaz de fazer um de seus melhores exemplares em anos.

De início, vemos um detetive (interpretado por Leonardo DiCaprio) investigando um desaparecimento, mas ao final, percebemos que o que realmente assistimos fora uma arrepiante e conturbada contemplação da loucura do homem, que coloca esta condição no mesmo patamar da morte. Porém, nesta última, ao menos não temos de nos lembrar que não somos mais quem éramos.

Praticamente impecável em seus aspectos técnicos e instigante do início ao fim, “Ilha do Medo” ainda conta com a melhor reviravolta da carreira de um homem que nunca precisou apelar para estar para que suas histórias se mostrassem marcantes.

Quem diria que brincar de Hitchock seria algo que Scorsese faria tão bem depois de 50 anos de carreira.


5 | cassino

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Talvez o filme mais Martin Scorsese de Martin Scorsese. Em “Casino”, o diretor faz seu jogo mais seguro, o que significa, obviamente, que é um filmaço.

Uma exposição da vida dos ricaços ligados ao jogo em Las Vegas, trata o tema do excesso (que mais tarde também vai ser abordado em Lobo de Wall Street) dos ricos e a violência ligada ao enriquecimento com atividades controversas. A direção de arte e a edição são especialmente essenciais para Scorsese criar o ambiente e os personagens ligados aos tipos de atividades que ficam no limite entre ilegal e imoral praticadas por seus personagens. A arte e os figurinos são essenciais para a construção de personagens complexos e impressionantes.

Esses personagens são coroados com performances incríveis de Robert De Niro, Joe Pesci e especialmente Sheron Stone, amplamente considerada a melhor personagem feminina da carreira de Scorsese.


4 | os infiltrados

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Não é nenhum mistério que as temáticas usuais do diretor desenvolvem o lado corrupto dos seres humanos, revelando a facilidade para suscetibilidade a más intenções, trazendo similares consequências e questionamentos em diversos personagens ao longo de sua obra.

Vencedor de quatro Oscar, incluindo melhor filme, melhor roteiro adaptado e melhor diretor, o filme é inspirado no longa de Hong Kong: “Conflitos Internos”, esta é, estranhamente, a única colaboração entre Jack Nicholson e Martin Scorsese.

Dois homens infiltrados, um policial (Leonardo DiCaprio) na máfia irlandesa. Outro o mafioso (Matt Damon) irlandês dentro da polícia. Quem é o rato? Não somente pode ser considerado um dos melhores filmes do diretor pelo brilhante roteiro, mas também algumas das melhores atuações da carreira do elenco. 

O filme menciona muita sobre confiança, a razão da necessidade dela em negociações escusas, e como a linha é tênue. Como para alguns o vício está na adrenalina de estar sempre no poder, mesmo podendo sair de tal precária situação. A violência se torna banal, mas diferente de os outros filmes ela incomoda porque a justiça demora para acontecer, e é cega. Em um sistema corrompido é isso que acontece muitas vezes quando se há um nepotismo enraizado. Porem relembra como sempre há pessoas dispostas a fazerem justiça com as próprias mãos. 

O estilo com a assinatura na montagem e o ritmo contribuem muito para o desconforto. Sensação comum em filmes de Scorsese, em que piscar os olhos é perda de tempo... ou um descanso. 


3 | os bons companheiros

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Não, nós não pulamos dois lugares na lista, apenas nos rendemos e decidimos não entrar em uma discussão sem sentido. Os três primeiros filmes estão, todos, entre os melhores da história do cinema, e decidir entre eles é uma tarefa que, apesar de divertida, decidimos deixar para outra hora.

Inspirado no livro "Wiseguy: Life in a Mafia Family” de Nicholas Pileggi. O longa relata a turbulenta trajetória de Henry Hill, nascido e criado no Brooklyn em meio a máfia “Wise Guys”.

“Bons Companheiros” carrega as clássicas características que denominam um filme do aclamado diretor, incluindo a participação de alguns usuais atores: Robert Deniro e Joe Pesci (destaque para brilhante e cômica performance). De acordo com o próprio, Scorsese teria dito à eles que fizessem o que quisessem em frente as telas, um exemplo - e um dos motivos - de o porquê o resultado ser tão natural.

Apresentando como ocorre o funcionamento da logística de negócios escusos. Demonstrando o cunho paradoxal dos relacionamentos entre estes homens, que envolve mais do que uma relação meramente profissional, e sim uma grande família. Em que confiança e morte se dividem (quase se equivalendo) em uma linha tênue. Porém, há a necessária distância e frieza, pois a qualquer momento um dominó pode cair e derrubar o outro: Voluntaria ou involuntariamente.


2 | taxi driver

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“Drive”, “Você Nunca Esteve Realmente Aqui”, “O Profissional”, “O Protetor”, vish, até “Carga Explosiva. As chances são que, mesmo que você não tenha assistido à “Taxi Driver” diretamente, já conhece suas ramificações e filhos que se tornaram quase um sub-sub-gênero do cinema norte-americano. Nenhum, é claro, foi capaz de superar este que foi o trabalho que consolidou Scorsese como um dos principais diretores em atividade, apesar de alguns emularem um pouco de sua mágica.

Investigando a mente humana com a mesma obsessão que Travis Bickle procura um propósito nas ruas de Nova York, aqui Scorsese chega o mais próximo possível de universalidade, adotando a depressão e solidão de seu personagem mais celebrado como motor de uma história que, por mais que absurda, parece cruelmente possível. Uma jovem Jodie Foster, de apenas 12 anos na época, vende o corpo para ganhar a vida e, por qualquer motivo, um taxista com coração partido decide ajudá-la.

Por que Bickle faz isso? Por que ele coloca a própria vida em risco por uma em meio a tantas garotas com necessidade? Por que ele achou que levar a namorada em uma sessão de filmes pornô seria uma boa ideia? Por que, ao falhar em praticamente tudo que tentara, ele decide recorrer à violência?Seu medo, na verdade, é simples de entender: Bickle queria fazer algo da vida, queria ser lembrado, queria poder dizer que viveu e não apenas existiu. Seu sorriso é triste, mas sincero. Ele sabe que, assim, talvez conseguisse algo que nunca tivera.

De uma forma ou de outra e em escalas diferentes, todos podemos nos relacionar com isso. O fato de De Niro ter decidido virar um taxista por semanas antes das filmagens, comprova esse fato.


Menções Honrosas: Qualquer coisa que ele já tenha dirigido.


1 | touro indomável

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Dentre todas as suas muitas colaborações, é possível dizer que nenhuma viu Scorsese e De Niro tão próximos como quando ambos estavam emulando a vida do boxeador Jake La Mota.

Uma aula de cinema em todos os sentidos, “Touro Indomável” não é apenas tão desgovernado e destrutível como o animal que é referenciado no título, mas um triste e melancólico retrato de uma época tão longínqua que não mais pareceria possível se não vivêssemos em uma versão talvez ainda mais absurda, mesmo que com luxos e ostentações que escondem nossa verdadeira natureza.

Quase como uma carta para o futuro, neste filme vendos um atleta - ou melhor, um homem que vivia do esporte - ter casos com meninas menores de idade como se fosse algo normal e como se elas não tivessem outra opção a não ser cair em seus encantos - se havia qualquer. Neste filme vemos este mesmo homem ter a vida destruída pelos excessos que construiu a sua volta. Neste mesmo filme vemos este homem ter tudo para sair desta única vida que conhecera, mas falhando por acreditar que pertenceria sempre ao mesmo papel que lhe fora dado.

Jake sabia socar os outros, e nunca se preocupou com o resto. Os socos se foram, ficaram as cicatrizes.

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