OS FILMES DE HOJE

Tudo começa com uma ideia. Talvez Todo final de ano a mesma sensação toma posse. Desde 2020, quando comecei a registrar todos os filmes que assisto, passo por aquele momento onde avalio meu ano de cinema antes de planejar o próximo, e percebo que vi ainda menos filmes do respectivo ano que no período anterior, mesmo que tenha mantido a média de 400 filmes por ano nos últimos quatro anos.

A título de comparação, assisti a 63 filmes de 2020, 61 de 2021, 47 de 2022, 38 de 2023 e míseros 16 de 2024 (com pouco mais de meio mês ainda pela frente). O que torna a tarefa de finalizar uma lista de melhores do ano virtualmente impossível, ainda mais quando percebi que não assisti a nenhum filme que considere grande, vindo de 2024. 

A culpa disso certamente reside, ou ao menos parcialmente reside, no fato de que iniciei em 2021 uma empreitada para conhecer o desconhecido. Embora fosse um “curioso” pelo cinema desde sempre, e um “entusiasta” desde 2014, foi apenas em 2021 que me propus a de fato passear pela história da sétima arte, investigando cânones e criando os meus próprios, algo que pretendo seguir fazendo pelo resto da vida. A meta para 2025 era assistir 500 filmes e por boa parte do ano estive com ritmo para alcançá-la. Porém a vida chama, e por questões pessoais e profissionais acabei emperrando nos 400 e tantos que vou ter assistido ao final do ano.


Mas outro problema, igualmente potente e que já foge da minha alçada, é o fato de que é difícil assistir a lançamentos em Porto Alegre. Ainda mais quando cinemas de rua são fechados ano após ano: em 2023, o CineGrand Café, palco de um curta que nunca realizarei, fechou as portas e, em 2024, o Espaço de Cinema Bourbon Country deu espaço ao Cinesystem que, com poucos meses de vida, já parece mais interessado em se abarrotar de sessões das mais novas porcarias da Disney.


Aliando isso à fraqueza do Festival de Gramado no que tange a cinema (o festival nunca foi sobre isso, mas cada vez mais é sobre a pompa, assim como a própria cidade vem se tornando), e o espectador Porto Alegrense, uma das capitais mais culturais e consumidoras de arte do Brasil, fica às margens.


A solução é abrir o bolso e ir para São Paulo ou Rio e engolir filmes em mostras e festivais, pelo jeito, mas enquanto isso ainda não virou uma prioridade (talvez vire em 2025), me resta sentar aqui, em uma folga que encontrei para ir a uma praia de menos de 20 mil habitantes obviamente sem nenhuma sala de cinema, e escrever este artigo - ou talvez a palavra relato seja mais apropriada.


Existem diversos motivos pelos quais os filmes não chegam mais ao Brasil, mas acredito que estes possam ser resumidos em uma frase mais ou menos longa: trata-se de um conluio dos meios de produção com a mídia para gerar uma contínua necessidade de conforto e afirmação de sensações atreladas a produtos audiovisuais, amparada pela confusão ideológica de uma esquerda que se deixou tomar por uma onda de conservadorismo e anti-intelectualismo em sua necessidade absoluta de um ideal infantil de igualdade e representatividade, resultando em uma geração de jovens (a começar pela minha, suspeito) que acredita se expressar melhor com manifestos online que no consumo, reflexão e debate das artes ao seu redor. Culpam a direita, mas esta segue preocupada com os mesmos assuntos do pós-Segunda Guerra, a maioria deles que nem lhes dizem respeito como indivíduos (o aborto, o casamento homosexual, o comunismo) e aqueles poucos que dizem como sociedade e que nos impedem de girar a roda sem os percalços que a fazem sempre emperrar (o capitalismo e a rejeição à história).


A verdade, ao menos a que observo, é que cada vez menos há a possibilidade da arte influenciar e mudar vidas, porque a máquina capitalista já está tão enraizada que tomou conta mesmo das manifestações culturais que a esquerda escolheu para si (no Brasil, falamos do Funk e do Sertanejo, embora esse seja mais comumente associado à direita) e agora destroi aquelas que, por motivos estúpidos, resolveu abandonar (podemos falar do futebol, nesse caso). No caso do cinema, acho que dá pra dizer que ambos - e falo aqui de um espectador imaginário médio de modo que minha orientadora me destruiria por propor sem uma devida pesquisa - desconhecem tanto o próprio cinema, que a relação já se torna quase inexistente. Mas a culpa também reside na ideologia da indústria brasileira que, claro, é subjugada pela internacional e foi minada durante os sete anos que o Brasil passou sem presidência.


Estes dias, procurando os curtas de variados festivais para assistir, a constatação é que estas obras entram no circuito e depois morrem, desaparecem tal qual os 75% dos filmes do cinema mudo que se perderam, em uma constatação assustadora que 100 anos depois ainda não sabemos, como Brasil, o que fazer com a nossa produção artística. É fácil e bem devido culpar as audiências, mas quando não há qualquer tentativa de aproximá-las do que há, e ainda mais a impossibilidade de encontrar o que há, a expectativa é que as coisas continuem assim.


Então daqui, proponho uma mudança imaginária, que vai além do difícil remanejo das cotas de tela: que todos os filmes de festival se tornem imediatamente disponíveis após suas vidas em circuito terminarem, que estes filmes passem na TV aberta, que os curtas vencedores de prêmios voltem a passar antes de sessões de longas, que as reportagens envolvendo os festivais sejam menos sobre as cores e as luzes e mais sobre os debates que as obras (e não seus discursos) acarretem.


Mas daí me lembro que, nisso, estou indo contra a máquina da direita, e a massa da esquerda.


O jeito, pelo jeito, é seguir vendo os filmes de ontem.


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